PROSA/FICÇÃO/ENSAIO
(em construção)
(em construção)
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DO FLÂNEUR AO CIBERFLÂNEUR
(fragmento/ensaio)
«Uma das condições essenciais para experienciar
o mundo, é deixar-se afectar pelo presente, e por todos os detalhes em
que este ainda se exprime»
(Baudelaire)
Depois
da falência declarada dos chamados grandes sistemas teóricos com pretensões de
explicação absoluta da realidade. Depois das inúmeras «crises de sentido»
operadas pelos mais variados autores. Depois da estranha sensação de que todos
ou quase todos os fundamentos teóricos ruíram ou de que todos ou quase todos os
projectos ideológicos falharam. Depois dos múltiplos escombros deixados à
deriva pelas «filosofias da suspeita» (Marx, Nietzsche, Freud, Heidegger, etc).
Depois da dissolução vertiginosa de todas estas «grandes narrativas» (Lyotard),
igualmente postuladas por outras tantas áreas da teoria do conhecimento, a
verdade é que todos estes grandes «abalos históricos» mais não parecem ter
feito do que contribuir para o atribuladíssimo processo de desestruturação ou
de instabilização dalgumas das chamadas verdades últimas acerca da inquietante
história da humanidade, mostrando assim, uma vez mais, algumas das múltiplas
fragilidades desse velho sujeito ondulatório que é o humano.
É verdade que
depois destes grandes abalos históricos ainda continuariam a surgir muitas
outras “categorias” ou “estruturas”, agora consideradas muito mais frágeis, flexíveis,
flutuantes, plásticas, elásticas e líquidas, sempre na tentativa, tantas vezes
inglória, de preencher os buracos ontológicos deixados à superfície da terra
pelas falhas das categorias anteriores. Neste sentido, as novas categorias
ditas então de «pós-estruturalistas» viriam assim a assumir uma tão grande diversidade
de nomes que é quase impossível fazer aqui uma apresentação, mesmo que breve, do
seu respectivo estatuto conceptual. De qualquer forma, diríamos apenas, ainda para
reforçar algumas das ideias anteriores, que todas estas novas “categorias”, ou
melhor, que a profusão destes novos operadores conceptuais ditos agora de mais
criativos, flexíveis, disseminativos, expansivos, colaborativos, interactivos (muitos deles
de matriz altamente digital), mais não fizeram do que criar uma espécie de vertiginoso enfeitiçamento, ou de erotização
generalizada da experiência contemporânea.
Na prática, esta espécie de
«atracção fatal», ou esta euforia generalizada desenvolvida em torno dos mais variados
feitos e efeitos da Web, que os novos
media parecem estar agora a proporcionar,
mais não fazem do que confirmar tudo aquilo que alguns de nós já
tínhamos verdadeiramente intuído, ou seja, que a única certeza que ainda nos parece
válida é a de que estaremos sempre em trânsito ou em permanente movimento, e
outras tantas vezes simplesmente à deriva (daí a tese do flâneur, e do ciberflâneur), não só à medida que vamos correndo o
risco de perder as coisas que mais desejamos ou as pessoas que mais amamos (esse
alguém que largamos a favor de uma nova viagem), mas também à medida que vamos
alimentando o desejo e a própria necessidade, tantas vezes obsessiva, de
continuar verdadeiramente conectados a mais alguém ou a mais alguma coisa, tal
como refere Steven Shaviro (2002, p.197), quando reforça a ideia de que «conectar
é preciso». Para mais tarde continuar ainda a dizer que «o verbo conectar é
uma verdadeira obscenidade no mundo de Noir,
o romance de ficção científica de K.W. Jeter. Lá as pessoas estão sempre a
dizer coisas tais como: «espera aí que eu já te conecto», ou ele «que se conecte»,
ou «vai-te conectar» (Jeter, 1999: pp.192-200). Em resumo, «quem está conectado
está verdadeiramente fodido»!
Ou seja, na prática, «toda a conexão tem o seu
preço (…)». E o preço de
estarmos ou não conectados, de estarmos ou não ligados (on/off ?) é o preço que pagamos
ou que temos vindo pagar, por nos continuarmos a “rebolar” excessivamente em
cima do teclado, por nos continuarmos a “rebuçar” em cima do rato ou por
continuarmos simplesmente a “fazer amor” com o ecrã, ele que incita, induz,
seduz, de um para muitos e de «muitos-para-muitos» (em rede), quase como se
fôssemos uma espécie de fantasmas interactivos incapazes de resistir aos
reflexos demasiado atractivos desse extraordinário «mapa de intensidades» (Deleuze),
repleto de imagens soltas, de viagens imprecisas e de ligações tantas vezes hesitantes
e interrompidas, mas que entretanto vão adquirindo muitas outras dimensões, muitas
outras camadas (camadas sobre camadas de sentido), ou repetições de repetições,
ou seja, «repetições do mesmo», «repetições do diferente», quase numa espécie
de esquizofrenia compulsiva de «diferença e repetição, repetição e diferença», diria Deleuze para complicar
ainda mais os contornos um tanto ou quanto indefinidos desta problemática
deveras aliciante.
Por isso, nesta perspectiva, estaremos
nós fartos de suportar a escala reduzida das grandezas naturais?Estaremos nós
fartos de respirar o ar puro das mais baixas camadas da atmosfera onde fomos
habituados a viver? Estaremos nós preparados para questionar aquilo que vai
acontecendo à nossa volta: «mundo negro, mar crescente: uma máquina solitária
ronca na praia, uma fábrica atómica instalada no deserto» (Deleuze), um chip
digital integrado no nosso crânio, uma lente misturada com a nossa carne, uma
fita magnética a dirigir os nossos passos, uma teia digital a comandar os
nossos gestos, uma rede virtual a programar os nossos actos (...).
Nota: publica-se aqui apenas um pequeno fragmento de um ensaio de 25 páginas recentemente publicado pela Editora Relógio D`Água.
Almeida, Eusébio - «Do flâneur ao ciberflâneur: breve digressão pelas práticas interactivas do espaço contemporâneo», in Genealogias da Web 2.0 (Org. Pedro de Andrade/José Pinheiro Neves), Revista de Comunicação e Linguagens, RCL, nº 42, Lisboa, Relógio D`Água (2011), pp. 247-271.
Ensaio disponível em : http://www.cecl.com.pt/rcl/edicoes/rcl-42-genealogias-da-web-2-0/72-literacia-e-literatura-na-web-2-0/276-do-flaneur-ao-ciberflaneur-breve-digressao-pelas-praticas-interactivas-do-espaco-contemporaneo
Todos os ensaios disponíveis em: http://www.cecl.com.pt/rcl/edicoes/254-rcl-42-genealogias-da-web-2-0
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TEORIA DA VIAGEM(fragmento/ensaio)
«Toda a
narrativa é uma narrativa de viagem.»
(Michel de Certeau)
É PRECISAMENTE entre esta vertiginosa necessidade de viajar sem parar (deslocação física), e
a vertiginosa necessidade de andar sem sequer se deslocarem fisicamente, como
uma espécie de «turistas sentados», que vários artistas tem
traçado alguns dos seus mais interessantes projectos artísticos, quase como se
desejassem compor e recompor uma espécie de «autobiografia
nómada», isto é, quase como se ainda fosse necessário continuar
a passar o muro, a furar a rede, a saltar por cima de uma qualquer fronteira
(real ou virtual), e mesmo que essa fronteira não exista e muitas vezes não
existe mesmo ou, pelo menos, parece não existir, a verdade é que estes
artistas continuam, mesmo assim, a sentir a necessidade de reinventar muitas
outras «linhas de fuga» (Deleuze, 1977), na tentativa de intervirem na
plasticidade ondulatória do espaço (por mais impenetrável que este ainda lhes
possa parecer).
Aliás, foi precisamente a partir desta espécie de pensamento
derivativo ou de permanente deslocalização que Smithson (ao contrário de
Richard Long que o apontava como uma espécie de «urban cowboy» incapaz
de praticar o espaço), se lançou para os destroços dos subúrbios do mundo em
busca de uma nova viagem que ainda lhe proporcionasse o prazer de
descobrir os contornos geográficos de uma outra paisagem («paisagem entrópica»),
na tentativa de formular novas perguntas e respostas sobre as inúmeras
contradições do espaço micro-utópico do andar (do andar enquanto prática
artística).
No fundo, Smithson, «entre o caçador do paleolítico e o arqueólogo
de futuros abandonados» (Careri, 2002: p.168), tentará resgatar alguns dos
múltiplos destroços desse antigo território (Passaic River), onde ainda pareciam existir as marcas do
pensamento, da cultura e da arte, procurando assim, para todos os efeitos, não
só uma espécie de transformação simbólica do território ameaçado, mas também uma
espécie de experiência que lhe permitisse alargar o «campo expandido» das suas
próprias práticas artísticas.
Nota: Fragmento de um artigo originalmente publicado no Dicionário Crítico de Arte, Imagem, Linguagem e Cultura.
Almeida, Eusébio, Dicionário Crítico de Arte, Imagem, Linguagem e Cultura (coordenado por José Bragança de Miranda, Maria Teresa Cruz e Raquel Henriques da Silva), Ministério da Cultura (MC), CECL, Museu do Côa, e IGESPAR, Lisboa (2009/2010), pp.1-6.
Artigo integral disponível no site do CECL,UNL: http://www.cecl.com.pt/pt/publicacoes/dicionario-critico
Artigo integral disponível no site do Museu do Côa:
http://www.arte-coa.pt/index.php?Language=pt&Page=Saberes&SubPage=ComunicacaoELinguagemCultura&Menu2=Cultura&Slide=180&Filtro=180
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Nota: Fragmento de um artigo originalmente publicado no Dicionário Crítico de Arte, Imagem, Linguagem e Cultura.
Almeida, Eusébio, Dicionário Crítico de Arte, Imagem, Linguagem e Cultura (coordenado por José Bragança de Miranda, Maria Teresa Cruz e Raquel Henriques da Silva), Ministério da Cultura (MC), CECL, Museu do Côa, e IGESPAR, Lisboa (2009/2010), pp.1-6.
Artigo integral disponível no site do CECL,UNL: http://www.cecl.com.pt/pt/publicacoes/dicionario-critico
Artigo integral disponível no site do Museu do Côa:
http://www.arte-coa.pt/index.php?Language=pt&Page=Saberes&SubPage=ComunicacaoELinguagemCultura&Menu2=Cultura&Slide=180&Filtro=180
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ARTE, FILOSOFIA E CHOCOLATES!
(Notas sobre a Teoria do Baloiço).
«Alguns problemas são demasiado
complexos para terem apenas
soluções racionais. Eles admitem intuições, e não
simples respostas.»
(Jerome Wiesner)
OS LIVROS de um
filósofo desconhecido colados na parede do quarto. Os quadros desenhados na
moldura rugosa do chão. Os dedos apoiados na face negra de uma escultura grega
(quase nua). As planícies a entrar pela janela do umbigo (essa fonte
inesgotável de prazer). E tudo são pretextos para continuar a pensar na
gramática do plano demasiado inclinado das palavras. De resto, as palavras só
querem provocar a voz do tal filósofo desconhecido, que parece estar a desaparecer
juntamente com o brilho dos sapatos. A verdade, porém, é que os sapatos ainda
não aprenderam a pensar. De resto, pensar é como respirar o ar puro da montanha
prestes a ruir. Pensar é como dar um mergulho nos limites da geometria quase
cega do oceano pacífico, onde te imagino vestida de salmão. Pensar é como
atravessar o deserto a pedalar em cima de uma bicicleta sem motor. É como idealizar
o mundo virado de pernas para o ar. Pensar é como saborear uma barra de
chocolate. Pensar é parar de comer. É continuar a correr. É resistir à sede, à
fome, ao frio, ao desejo e ao desespero de continuar a viver. É matar a fome
com rodelas de limão. É subir sem cair para voltar a descer.
Não, não sou
filósofo, nem gostaria de o ser. Os filósofos matam as ideias antes delas
ganharem vida própria. Também não sou pugilista. Nem poeta. Nem cantor. Talvez seja
um simples acrobata distraído em cima de uma placa giratória, prestes a partir.
É a partir do chão que recomeço a desenhar a dança maliciosa do duplo retrato
do mundo onde existe o plano inclinado da teoria do baloiço. A teoria do
baloiço é aquela que nos permite escorregar em cima dos sapatos brilhantes do
filósofo desconhecido. Os sapatos a cair. A cair do ar. O ar com que respiramos
o sabor da terra. A terra a voar por cima das nossas próprias cabeças (onde
tudo parece estar demasiado inclinado para o acidente). Tal como um malabarista
a sentir o desespero da próxima queda. Tal como Godot à espera de qualquer
coisa, de que um dia acabará, finalmente, por se fartar de esperar. É ainda da teoria
do baloiço que estamos a falar. Ou da teoria do malabarista que sobe e que
desce sem parar. Subir ou descer, neste caso, tanto faz, desde que se consiga
encontrar alguma água na geometria, quase plana, do deserto da filosofia (onde
não deviam existir territórios proibidos). Não, não sou filósofo, nem gostaria
de o ser.
Os filósofos são uma espécie de vendedores ambulantes à beira do
desespero. Desesperam, porque o mundo deixou de ser pensado por eles (por eles,
e pela fatídica «filosofia analítica», que tantos estragos causou à tão
famigerada cultura ocidental). A verdade, é que o mundo não precisa de filosofia,
nem de filósofos para nada. A filosofia é que precisa do baloiço do mundo para
poder existir. Para poder existir melhor. A filosofia precisa é de entrar
dentro da cabeça criativa de um qualquer jogador de corridas virtuais, desses
que vivem agarrados à obsessão do poder interactivo das imagens. Das imagens com
que se podem simular os contornos violentos do corpo em cima da partitura visual
de um qualquer ecrã. O ecrã, «essa forma iluminada de resgate», que nos pode ajudar
a dar saltos mortais em direcção aos inquietantes abismos do crânio (essa
máquina misteriosa que nos ajuda a pensar). Mas pensar é fugir, e fugir é
pensar. Pensar, neste caso sem qualquer tipo de filosofia, já que a filosofia
pode matar o pensamento.
Pode matar porque esta continua demasiado agarrada à essa espécie de «masturbação de grilos impotentes», diz-nos Eduardo Prado Coelho, em Tudo o que não escreveu (tudo o que não escreveu sobre o equilíbrio instável do mundo). Mas, pensar e escrever é isso mesmo. É “procurar novas armas” (é agir) com as quais nos possamos defender dos perigos das inúmeras tempestades da vida. Porque a verdade é que nunca estamos demasiado preparados para nada (não há programas que nos salvem). Muito menos para sentir. Para sentir o prazer de gesticular com os dedos dos pés. Tal como uma criança a sentir o prazer de moldar a plasticina com as mãos. As mãos enfiadas no barro, até este ganhar a forma de uma pequenina parte do mundo.
Pode matar porque esta continua demasiado agarrada à essa espécie de «masturbação de grilos impotentes», diz-nos Eduardo Prado Coelho, em Tudo o que não escreveu (tudo o que não escreveu sobre o equilíbrio instável do mundo). Mas, pensar e escrever é isso mesmo. É “procurar novas armas” (é agir) com as quais nos possamos defender dos perigos das inúmeras tempestades da vida. Porque a verdade é que nunca estamos demasiado preparados para nada (não há programas que nos salvem). Muito menos para sentir. Para sentir o prazer de gesticular com os dedos dos pés. Tal como uma criança a sentir o prazer de moldar a plasticina com as mãos. As mãos enfiadas no barro, até este ganhar a forma de uma pequenina parte do mundo.
Esta é a magia de aprender a pensar com a enorme fragilidade das mãos. De
facto, é tão bom poder pensar a partir da metáfora das mãos, dizia Deleuze (e
dos pés, e da boca, e dos lábios, e da pele, e da carne), tal como uma criança a
sentir o prazer de experimentar o barro a deslizar por entre os dedos acabados
de limpar. Tal como Álvaro de Campos a experimentar o sabor do chocolate das
palavras com que escrevia ao dizer; «Come chocolates, pequena! Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates». Agora começo a
perceber, só os gulosos é que sabem viver bem longe das inúmeras tempestades de
areia que continuam a existir no deserto do crânio daqueles que nunca
aprenderam a pensar com as mãos, os dedos, a boca, a pele, a carne…!
Nota: Artigo originalmente publicado no Suplemento Cultural do Diário de Notícias (DN JOVEM), a 29 de Junho de 2006.
Para consultar a lista de artigos deste autor publicados no Suplemento Cultural do Diário de Notícias (DN JOVEM), ver curriculo em anexo: http://www.degois.pt/visualizador/curriculum.jsp?key=2566368344223116
Eusébio Almeida
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SONHAR NO MUSEU
Eusébio Almeida e Rosário Caeiro, Ministério da Cultura (MC),
Instituto Português de Museus (IPM), Lisboa, 2004
Instituto Português de Museus (IPM), Lisboa, 2004
Este é um livro onde se relata uma história em que a personagem principal, Rafaela, vai descobrindo e revelando a colecção do Museu de Cerâmica (Museu Rafael Bordalo Pinheiro). É uma obra que pretende dar a conhecer o edifício, o percurso expositivo, o jardim, e as peças de cerâmica de Bordalo Pinheiro, quer através de uma vertente mais técnica, quer através de uma vertente mais lúdica e poética, tal como era apanágio da imaginação desse grande mestre artista/ceramista/caricaturista. O livro é todo ele profusamente ilustrado com aguarelas, e no final apresentam-se ainda as fotografias das principais peças do museu, neste caso, com legendas adaptadas à linguagem das crianças.
Almeida, Eusébio, Caeiro, Rosário , Ministério da Cultura (MC), Instituto Português dos Museus (IPM), e Museu de Cerâmica, Lisboa (2004). ISBN: 972-776-220 (21x14.8 cm; 32 pp.; 27 il. cor; brochado; ed. portuguesa).
Livro disponível em : http://www.ipmuseus.pt/pt-PT/recursos/publicacoes/pub_inf_juve/PrintVersionContentList.aspx?page=2
Livro disponível em : http://www.ipmuseus.pt/pt-PT/recursos/publicacoes/pub_inf_juve/PrintVersionContentList.aspx?page=2
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LIVRO DE PINTURA CONTEMPORÂNEA
(PORTUGAL/BRASIL).
DESENCARCERAR A ARTE DAS ALGEMAS DA HISTÓRIA
Livro Luso-Brasileiro de Pintura Contemporânea, Universitária Editora,
Lisboa, Rio de Janeiro (2003).
«A arte é uma droga que gera dependência»
(Duchamp)
Antes de
Duchamp (considerando a obra de Duchamp como uma das grandes matrizes da arte
contemporânea), a arte, na Europa e no resto do mundo, não passava de um enorme
mosaico repleto de imagens demasiado figurativas, isto é, feitas apenas à medida do
laboratório pictórico dos artistas da época que pincelavam obsessivamente o
rosto do século XIX, em busca de um qualquer «paraíso perdido» (Seurat, Paul
Gauguin, Van Gogh, Cézanne, Toulouse-Lautrec, Monet, Manet, Degas, James Ensor,
Matisse…etc), isto só para referir um número muito reduzido de artistas (a
lista, essa, seria verdadeiramente interminável).
Depois,
Kandinsky, terá dado os “primeiros” passos até chegar àquele que é considerado o primeiro quadro
abstracto, datado de 1910. Depois surgirão os dadaístas (Janco, Tzara, Hans
Arp, Ball, Man Ray, etc), não só com as suas enormes “patetices em verso”
(grunhidos e guinchos ontológicos), e os seus entretenimentos cacofónicos (homo ludens), mas também com os seus
protestos contra «o significado da história», e o «derrube» da civilização
ocidental. Depois virão os surrealistas, com as suas múltiplas alucinações, as
suas fantasmagorias, os seus «automatismos psíquicos», capazes de gerar uma
imagética gritante, neurótica, ameaçadora, inventiva, automática, paranóica,
febril, compulsiva, arrebatadora, ou seja, encarando assim a arte como uma
espécie de «extensor da criatividade», segundo Abraham Moles, ou uma espécie de
estrutura variacional do mundo (cheio de dobras, de esquinas, de arestas
difíceis de limar).
É verdade,
que antes de tudo isto, já tinham sido pintados alguns gritos de raiva e de
protesto, como os de Munch (1893). É verdade que já tinham inventado a
fotografia (Niepce/1826), que levará mais tarde à descoberta do
cinema, da televisão, do vídeo, do computador, da Web, etc. Enfim, podíamos continuar a referir,
indefinidamente, um sem número de obras e de artistas, mas uma coisa é certa,
só depois de Duchamp, é que apareceram todos aqueles grandes “criadores” que acabaram
por marcar a História das Artes Visuais (de Warhol a Bruce Nauman, de Pollock
a Fontana, de Arman a Vostell, de Donald Judd a Calder, de R.Horn a R.Serra, de R.Smithson a R.Long, de Christo a J.Beuys, de Dan Graham a Marina Abramovic, de G. Richter a Burden, de Merz a Louise Bourgeois, de Matta Crark a
Boltanski, de Jeff Koons a Gormeley, de Kiki Smith a Ilya Kabakov, de Nam
June Paik a Hans Haacke, de Jenny Holzer a Barbara Kruger, de Gary Hill a Bill
Viola, de Tony Oursler a Nan Goldin, de Jeff Wall a Cindy Sherman, de Thomas
Ruff a Walker Evans,- de Tracey Emin a Olafur Eliasson, de Stan Douglas a
Larry Clark, de V.Beecroft a art club 2005, de Jeffrey Shaw a Stelarc, etc. A lista, essa, continua a crescer indefinidamente....................................!
Nota: Publica-se aqui apenas um breve fragmento do ensaio integrado no livro acima enunciado.
Almeida, Eusébio M. 2003. Livro/Anuário Luso-Brasileiro de Pintura Contemporânea, Portugal/Brasil (org. Arsénio Rosa/Susana Rosa), Lisboa, Rio de Janeiro. ed. 2, 1 vol., ISBN: 972-700-566-7 (972-700-474-1), Lisboa, Rio de Janeiro: Universitária Editora (2003), pp. 9-11.
Livro disponível em: http://www.livapolo.pt/livro/detalhe/anuario-luso-brasileiro-pintura-e-escultura-em-portugal-brasil-2004-2005/58860
Disponível em: http://www.cotacota.com.br/anuario-luso-brasileiro-pintura-em-portugal-brasil-2003-importado-arsenio-rosa-suzana-rosa-universitaria-editora-isbn-9727004741_85_220217_oferta.html
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